Brigitte Helm, A Deusa Eterna De Yoshiwara!!!

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segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Resenha de Filme - Capote

Capote. Ilhas De Perdões Em Mares de Tragédias.
Este ano perdemos Philip Seymour Hoffman. Esse grande ator fez os mais variados papéis. Filhinho de papai, porra louca caçador de tornados, líder de grupo antiterrorista alemão, violinista, etc., etc. Mas vamos lembrar hoje aqui do papel que o consagrou: o do escritor homossexual Truman Capote, que lhe rendeu o Oscar de melhor ator no ano de 2005. Capote, homossexual assumidíssimo, passou por sérios problemas de preconceito nos Estados Unidos de fins da década de 1950 e início da década de 1960. Ele era articulista da revista “New Yorker” e viajou para o Kansas com o objetivo de cobrir o assassinato de quatro pessoas de uma mesma família. O escritor logo sofrerá uma séria rejeição das pessoas por sua condição extremamente afetada de se expressar. Por isso, ele foi com a companhia da escritora Nelle Harper Lee, lésbica, que fará a tarefa de se aproximar das pessoas da cidade, sobretudo do responsável pelas investigações, o policial Alvin Dewey (interpretado por Chris Cooper), que muito sofreu com a chacina, pois era amigo próximo das vítimas. Lee conseguirá aproximar Capote de Alvin. Após algumas investigações, Alvin consegue chegar aos autores do crime, dois homens. Capote fará de tudo para se aproximar deles. E consegue, onde ele fará uma série de entrevistas com um deles, Perry Smith (interpretado por Clifton Collins Jr.), por quem desenvolve laços afetivos, já que sua história de vida se assemelhava muito à do criminoso, onde ambos sofreram rejeições na infância e tiveram problemas de relacionamento com suas mães.
Capote perceberá que a história do homicídio poderá render muito mais que um simples artigo e inicia um projeto para escrever um livro, o que seria o grande trabalho de sua carreira, “A Sangue Frio”. Mas o processo de produção do livro se revelou uma verdadeira tortura para o escritor, pois o envolvimento com os acusados do crime tornou-se cada vez mais profundo, a ponto de Capote buscar meios de defender os criminosos. A situação piorou com a condenação dos dois a morte. O desfecho do livro passou, então, a depender do fato de se a pena capital seria cumprida ou não. Capote, então, fica num sério impasse, pois o êxito de seu trabalho depende da morte dos acusados, mas, ao mesmo tempo, sua afeição a eles o coloca numa situação de drama profundo. O relacionamento entre Capote e Perry é tortuoso, com o prisioneiro vendo o escritor ora como amigo, ora como uma pessoa que só tem interesses em obter sucesso profissional às custas da desgraça dos prisioneiros. Os vários recursos que adiavam a execução só aumentavam ainda mais o tormento de Capote. Até que, finalmente, os dois vão para o corredor da morte, e para a forca. Capote tenta de todas as formas, se desligar de tudo, em crises de depressão. Mas vai falar com os criminosos, recebendo a compreensão de Perry, que quer que Capote assista a sua execução, já que não há ninguém de sua família em seu último momento. Assistir a execução foi a pá de cal no emocional do escritor, que mergulhou no alcoolismo e nunca mais conseguiu terminar outro livro depois de “A Sangue Frio”, falecendo em 1984.
A grande atração do filme é a soberba interpretação de Philip Seymour Hoffman, realmente digna do Oscar de melhor ator. Sua atuação afetada o fazia parecer outra pessoa. Ainda, ele conseguiu expressar todos os estados de espírito (o piadista, o deprimido, o resignado pelo preconceito, o irônico) de forma magistral, mesmo tendo que usar a interpretação afetada, que é vista com estereótipos. Hoffman supera a força dos estereótipos e torna o personagem de Capote uma figura extremamente humana e simpática para nós, quando a figura do homossexual afetado soa pouco simpática numa sociedade ainda muito homofóbica e preconceituosa como a nossa, seja aqui no Brasil, seja nos Estados Unidos.
Além da primorosa interpretação de Hoffman, o filme tem outra interessante virtude. É uma história que fala, sobretudo, de perdão. Perry cometeu um crime para lá de hediondo. Sua punição foi justa? Para nós, que vivemos num mar de impunidade aqui no Brasil, a execução soa muito justa. Só que essa não é a questão aqui. O que realmente importa é buscar compreender por que tal crime ocorreu. Que situações expressas na trajetória de vida de Perry o levaram a cometer tal atrocidade? Esse era o objetivo da investigação de Capote que, ao mergulhar no íntimo do preso, começou a entendê-lo. Podemos até questionar a tentativa de Capote de salvar os criminosos, mas ele o fez por identificar seu próprio passado com o de Perry. O dilema provocado pela aproximação de Capote com o preso e a necessidade de terminar seu livro, que passava obrigatoriamente pela execução, levou o escritor a um grande tormento. Mas o grande ato no filme foi o de Perry que, à beira do cadafalso, ainda conseguiu perdoar Capote, mesmo que isso não tenha surtido efeito na vida posterior do escritor, que entrou em parafuso. Se Capote perdoa Perry ao se identificar com ele, Perry também perdoa Capote ao presenciar o dilema do escritor.

Uma excelente interpretação digna de Oscar. Um relacionamento humano tortuoso e complexo. Tudo isso baseado numa história real. Tem horas que a vida consegue ser mais criativa que a arte. Todos esses fatores fazem de “Capote” um filme memorável. E o maior ícone do talento de Philip Seymour Hoffman.


Cartaz do filme.


Um escritor muito afetado.


 
Analisando uma chacina.


Com a ajuda de sua amiga Nelle Lee, ele interage com o povo da localidade.


Principalmente com Alvin, um delegado atormentado.


Assassinos descobertos.

Relação próxima com Perry, um dos assassinos.




Arte imita a vida.



O verdadeiro Capote.



Saudades de um grande ator...

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